Em cartaz com 'Irma Vap', ator descreve o tipo de humor que gosta de fazer, fala da luta dos artistas negros por protagonismo e comemora que alguns colegas de profissão passaram a falar sobre suas sexualidades: "Não é mais aceitável que um ator seja obrigado a se esconder para trabalhar"
Na última quinta (27), Luis Miranda reestreou o espetáculo Irma Vap, comédia que faz junto de Mateus Solano e que segue em cartaz em São Paulo até março. “Estávamos com medo porque não sabíamos se as pessoas teriam coragem de sair de casa, mas o brasileiro não tem medo de nada”, brinca, em conversa com Quem, comemorando o primeiro final de semana de apresentações, com o teatro lotado.
Com texto norte-americano escrito nos anos 80, Irma Vap é um dos maiores sucessos do teatro brasileiro com uma montagem que teve Marco Nanini e Ney Latorraca e durou 11 anos. A nova versão, Luis garante, é bem diferente: “Eu não assisti às versões anteriores, mas o diretor (Jorge Farjalla) chegou com uma proposta pronta de homenagear o trash, tanto que ele faz referência ao filme Pague para entrar, Reze para Sair (1981). Eu e Mateus nos conhecíamos da TV mas não tínhamos trabalhado diretamente. O interessante de nós dois juntos é sermos diferentes.”
Irma Vap teve uma bem sucedida temporada em São Paulo e no Rio de Janeiro em 2019, que renderam à Luis três prêmios, entre eles o Shell, o Oscar do teatro brasileiro. Retornando após quase dois anos de distanciamento social, ele diz não ser fácil fazer rir: “Tem uma tristeza de ver o povo sofrendo, a nação padecendo nesse desgoverno. Mas o que a gente faz não é só rir, é refletir, iluminar. O espetáculo tem muita crítica, colocamos uma personagem como sendo negacionista, preconceituosa, de uma classe brasileira que desqualifica indivíduos. Rir com uma pitada de reflexão, se não for assim não me interessa. Não tenho vontade de sair de casa só para entreter. Não vou pisar em um palco à toa. Muita gente quer fazer sucesso e eu quero fazer história. Minha comédia é feita nesse lugar.”